A saúde
obteve um grande avanço na questão da segurança dos pacientes nos últimos anos.
Segundo o relatório do Departamento de
Saúde e Recursos Humanos dos Estados Unidos (DHHS),
houve uma diminuição na taxa de mortalidade dos pacientes em hospitais, cerca
de 87 mil vidas foram poupadas. Entretanto, constantes avaliações demonstram a
necessidade de melhorar, tendo em vista problemas relatados no ano de 2015, que
ameaçam a segurança do paciente.
De acordo
com o Controle de Infecção e Qualidade
Clínica de Becker, há
10 questões de segurança do paciente que deverão ser consideradas em 2016, com
base nos acontecimentos relatados em 2015:
- Erros
de Medicação
- Erros
de Diagnóstico
- Alta
hospitalar após a fase aguda
- Segurança
no trabalho
- Segurança
das instalações
- Legionelose
- Questões
de reprocessamento de produtos médicos
- Sepse
- Superbactérias
- Insegurança
de dispositivos médicos inteligentes
Os erros
de medicação são considerados um dos tipos mais comuns de erros de
internação, quase 5 por cento dos pacientes hospitalizados são afetados anualmente
por eventos adversos associados a medicamentos. Novas evidências em
2015 mostraram que os erros de medicação são abundantes também em cirurgias,
ocorrendo em quase metade de todas as cirurgias. Os mais frequentes erros
ocorrem em rotulagem, dosagem, documentação e negligência ao tratar um problema
indicado pelos sinais vitais do paciente.
Os erros
de diagnóstico são responsáveis por 6 a 17 por cento dos eventos adversos
hospitalares e por cerca de 10 por cento das mortes de pacientes. Os hospitais
precisam concentrar esforços para melhorar esse grave problema de segurança do
paciente, fomentando o trabalho em equipe entre os profissionais da saúde.
A alta
hospitalar pode ser um momento crítico no cuidado do paciente. Um estudo
descobriu que quase 20 por cento dos pacientes experimentam um evento adverso
dentro das três semanas seguintes da alta hospitalar, sendo que muitos desses
eventos poderiam ser evitados. Uma das soluções é responsabilizar os hospitais
pela qualidade do atendimento e custo dos pacientes, pelos 90 dias completos após
a alta hospitalar, oferecendo aos hospitais condições financeiras para se
concentrar nessa importante questão da segurança do paciente.
A
segurança no trabalho é uma das principais preocupações do profissional da
saúde atualmente, tendo em vista o alto índice de ferimentos provocados por
seringas e até mesmo casos de agressão por parte dos pacientes. Segundo o
CREMESP, inúmeros casos de ameaças e agressões contra médicos já fazem parte da
rotina no atendimento a pacientes em postos de saúde, prontos-socorros,
hospitais, clínicas e consultórios. As precárias condições de trabalho a que os
médicos são submetidos, diariamente, durante o exercício profissional acarretam
problemas como longas filas e sobrecarga de atendimentos em unidades de
urgência e emergência. Esse quadro tem favorecido o surgimento de graves
conflitos entre médicos e pacientes que, por vezes, atingem o nível da agressão
física e moral, notadamente nas periferias dos grandes centros urbanos, como
São Paulo.
Problemas
com instalações dos hospitais pode colocar a segurança do paciente em risco.
Falta de manutenção, vazamentos de esgoto, problemas nas instalações elétricas,
ratos em tubulações de ar condicionado, são problemas graves que elevam o risco
de infecções, colcando em risco tanto a vida dos pacientes quanto a dos
profissionais da saúde.
A Legionelose é uma doença pulmonar desconhecida
por muitos, mas que pode colocar em risco à vida do paciente. É uma patologia
provocada pela bactéria Legionella pneumophyla que, quando aspirada, pode
alojar-se nos alvéolos pulmonares, provocando uma pneumonia severa.
Pessoas
com sistema imunológico comprometido, doenças respiratórias ou problemas
cardíacos, especialmente pessoas idosas, são as mais propensas ao contágio. Por isso, a bactéria é
muito perigosa em ambientes hospitalares onde há a concentração de pessoas
criticamente debilitadas. A bactéria sobrevive em locais com água,
principalmente morna, em sistemas de ar condicionado, banheiras, piscinas,
chuveiros, nebulizadores e sistemas de água. Por isso, é fundamental a limpeza
de aparelhos de ar-condicionado, principalmente am ambientes hospitalares.
Em 2015,
várias organizações da área da saúde, construção e engenharia formaram uma
força-tarefa para criar diretrizes uniformes de aquecimento, ventilação e ar
condicionado em salas de cirurgia, departamentos de processamento estéreis e
salas de procedimento endoscópio, para garantir a segurança do paciente. Desta
forma, os hospitais devem reavaliar os protocolos de manutenção para as suas
instalações a fim de garantir a segurança dos pacientes.
As
questões do reprocessamento de materias cirúrgicos estão no topo da lista dos
maiores causadores de infecções hospitalares. Especialistas enfatizaram a
importância da limpeza adequada dos endoscópios e demais instrumentos
cirúrgicos de forma a evitar a infecção. Para isso, os profissionais da saúde
precisam aprimorar suas práticas, seguindo à risca os protocolos de forma a promover a segurança dos pacientes.
Os riscos
relacionados aos materiais são:
- infecção
do local cirúrgico;
- reações
pirogênicas;
- corpos
estranhos;
- fragmentos
de materiais;
- resíduos
do processo;
- falha
no funcionamento.
A RESOLUÇÃO
- RE N° 2605, DE 11 DE AGOSTO DE 2006,
da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, indica os produtos que no
estágio atual de conhecimento não devem ser reprocessados:
- Agulhas
com componentes, plásticos não desmontáveis
- Aventais
descartáveis;
- Bisturi
para laparoscopia com fonte geradora de energia, para corte ou coagulação com
aspiração e irrigação;
- Bisturis
descartáveis com lâmina fixa ao cabo; (funcionalidade)
- Bolsa
coletora de espécimes cirúrgicos;
- Bolsas
de sangue;
- Bomba
centrífuga de sangue;
- Bomba
de infusão implantável;
- Campos
cirúrgicos descartáveis;
- Cânulas
para perfusão, exceto as cânulas aramadas.;
- Cateter
de Balão Intra-aórtico;
- Cateter
epidural;
- Cateter
para embolectomia, tipo Fogart;
- Cateter
para oxigênio;
- Cateter
para medida de débito por termodiluição;
- Cateter
duplo J, para ureter;
- Cateteres
de diálise peritoneal de curta e longa permanência;
- Cateteres
e válvulas para derivação ventricular;
- Cateteres
para infusão venosa com lume único, duplo ou triplo;
- Cobertura
descartável para mesa de instrumental cirúrgico;
- Coletores
de urina de drenagens, aberta ou fechada;
- Compressas
cirúrgicas descartáveis;
- Conjuntos
de tubos para uso em circulação extracorpórea;
- Dique
de borracha para uso odontológico;
- Dispositivo
para infusão vascular periférica ou aspiração venosa;
- Dispositivo
linear ou circular, não desmontável, para sutura mecânica;
- Drenos
em geral;
- Embalagens
descartáveis para esterilização de qualquer natureza;
- Equipos
descartáveis de qualquer natureza exceto as linhas de diálise, de irrigação e
aspiração oftalmológicas;
- Esponjas
Oftalmológicas;
- Expansores
de pele com válvula;
- Extensões
para eletrodos implantáveis;
- Equipos
para bombas de infusão peristálticas e de seringas;
- Extensores para equipos com ou sem dispositivo para administração de
medicamentos
- Filtros
de linha para sangue arterial;
- Filtros
para cardioplegia;
- Filtros
endovasculares;
- Fios
de sutura cirúrgica: fibra, natural, sintético ou colágeno, com ou sem agulha;
- Geradores
de pulso, implantáveis;
- Hemoconcentradores;
- Injetores
valvulados (para injeção de medicamentos, sem agulha metálica);
- Lâmina
de Shaiver com diâmetro interno menor que 3mm;
- Lâminas
descartáveis de bisturi, exceto as de uso oftalmológico;
- Lancetas
de hemoglicoteste;
- Lentes
de contato descartáveis;
- Luvas
cirúrgicas;
- Luvas
de procedimento;
- Óleos
de silicone Oftalmológico e soluções viscoelásticas oftalmológicas;
- Oxigenador
de bolhas;
- Oxigenador
de membrana;
- Pinças
e tesouras não desmontáveis de qualquer diâmetro para cirurgias vídeo assistida
laparoscópica;
- Produtos
implantáveis de qualquer natureza como: cardíaca, digestiva, neurológica,
odontológica, oftalmológica,
- ortopédica,
otorrinolaringológica, pulmonar, urológica e vascular.
- Punch
cardíaco plástico;
- Reservatórios
venosos para cirurgia cardíaca de cardioplegia e de cardiotomia;
- Sensor
débito cardíaco;
- Sensores
de Pressão Intra-Craniana;
- Seringas
plásticas exceto de bomba injetora de contraste radiológico.
- Sondas
de aspiração;
- Sondas
gástricas e nasogástricas, exceto as do tipo fouché;
- Sondas
retais;
- Sondas
uretrais e vesicais, exceto uso em urodinâmica;
- Sugador
cirúrgico plástico para uso em odontologia;
- Registro
multivias de plástico, exceto os múltiplos, tipo manifold;
- Cúpula
isoladas para transdutores de pressão sangüínea;
- Trocater
não desmontável com válvula de qualquer diâmetro;
- Tubo
de coleta de sangue.
De acordo
com o Centro de Controle e Prevenção de
Doenças (CDC),
mais de 1 milhão de casos de sepse ocorrem a cada ano, e cerca de metade das
pessoas com sepse vai morrer, tornando-se a nona principal causa de mortes
relacionadas com a doença. A sepse é a principal causa de morte por infecção em
todo o mundo, apesar dos avanços da medicina moderna, como vacinas,
antibióticos e cuidados intensivos. Pneumococcos estão entre as causas mais
comuns de sepse.
Pessoas com diabetes, câncer, infecção pelo HIV, tratados
previamente com quimioterapia, usuários de corticosteróides ou aqueles que
apresentam qualquer forma de imunossupressão, bem como recém-nascidos
prematuros e idosos são os mais suscetíveis às formas mais graves de infecção.
As
Bactérias estão continuamente se adaptando ao ambiente, desenvolvendo mecanismos
de resistência às drogas que deveriam derrotá-las, e estão passando esse
material genético para outras bactérias, tornando-se superbactérias.
Observa-se
uma grande quantidade de óbitos em todo o mundo em decorrência de infecções por
superbactérias, principalmente nos países mais pobres. Isso ocorre porque, em
muitos desses lugares, não há instalações adequadas para a identificação rápida
desses organismos, além de possuírem poucos antibióticos alternativos para o
tratamento de bactérias resistentes.
As Enterobacteriaceae referem-se à família das bactérias, tais como Escherichia Coli e Klebsiella, que são micróbios patogênicos bacterianos mais frequentemente associados com as infecções adquiridas em hospitais.
As Enterobacteriaceae Carbapenem-Resistentes (CRE) são aquelas bactérias resistentes a muitos antibióticos beta-lactâmicos. Os Carbapenems são antibióticos com espectro bactericida muito amplo, conhecidos para ser os mais eficazes contra infecções.
Geralmente
essas superbactérias surgem em razão do uso de uma grande quantidade de antibióticos
de forma desnecessária ou de maneira incorreta, que acaba selecionando as
formas resistentes. Uma das principais bactérias resistentes a medicamentos é a
Staphylococcus aureus, sendo a forma resistente à meticilina (MRSA) a mais
comum. A MRSA é encontrada em praticamente todo o mundo, normalmente em
Unidades de Terapia Intensiva (UTI), onde causam sérios problemas. Essa
superbactéria, além de ser resistente a vários antibióticos, é capaz de
colonizar instrumentos médicos.
As cepas
foram nomeadas como "ameaça fantasma" por alguns cientistas. Pesquisadores
na China publicaram dados sobre uma bactéria encontrada em suínos, frangos e
humanos, que contém um gene que faz com que ela seja resistente a todas as
formas de antibióticos. O gene responsável pela resistência é chamado MCR-1, e
também foi identificado na Dinamarca. O gene foi encontrado em bactérias E.
coli e na Klebsiella pneumoniae.
Os
Pacientes que estão criticamente doentes, em conseqüência de tratamentos
quimioterápicos ou transplantados que fazem uso de imunossupressores, são os que
correm maior risco de serem infectados. As infecções geralmente ocorrem por
meio de ventilação mecânica, catéteres intravenosos, catéteres urinários ou por
meio de feridas causadas pela cirurgia.
Em julho
de 2015, a Food and Drug Administration
dos Estados Unidos, emitiu um aviso oficial para os hospitais pedindo que
reconsiderem a utilização da Bomba de Infusão Symbiq Hospira, uma bomba informatizada que é amplamente utilizada
para administrar medicamentos, depois que se tornou evidente sua
vulnerabilidade. A vulnerabilidade permitiria, por exemplo, que um usuário
controlasse o dispositivo médico modificando as dosagens de medicação
administradas a pacientes em tratamento.
Muitos
dispositivos médicos em redes hospitalares já estão repletos de
vulnerabilidades, e mesmo que a intenção não seja a de causar dano aos pacientes,
que podem estar conectados aos dispositivos, os hackers podem ter acesso a
partir de um ponto de entrada do aparelho, conseguindo obter informações privadas.
Espera-se
que em 2016, haja uma forte cobrança aos fabricantes, para que
aprimorem seus produtos e encontrem soluções. A transparência nas informações com
qualidade é essencial. A maioria dos sistemas de saúde consultam os pacientes
sobre suas experiências e sobre a satisfação com o atendimento médico durante a sua
hospitalização. Mas poucos disponibilizam essas informações na internet para
que todos possam ter acesso, embora não haja razão para acreditar que essa
prática poderá melhorar a segurança do paciente.
De acordo
com Ashish K. Jha, MD, pesquisador de segurança do paciente da Escola de Saúde
Pública da Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts: “Quando todos - médicos, pacientes,
instituições e imprensa – estiverem cientes dos dados sobre o desempenho do serviço prestado, os
médicos desenvolverão maior senso de responsabilidade em prestar serviço de
qualidade".
Esse tipo
de feedback, além de promover a melhoria da qualidade, destacará pontos a serem
melhorados, com relação à assistência ao paciente, que a administração talvez
não esteja ciente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: