Um protocolo de doação autóloga
intraoperatória[1] utilizado
em pacientes durante cirurgias cardíacas
foi comprovado seguro e eficaz na minimização da morbidade e mortalidade
perioperatória, de acordo com dados apresentados no Encontro Anual da Sociedade
para Cirurgiões Torácicos.
"Um protocolo agressivo de doação
autóloga intraoperatória é uma estratégia eficaz de conservação do sangue que
leva a melhores resultados em cirurgias cardíacas", disse Eric Zimmermann, MD, médico-residente no Hospital de cuidados intensivos NewYork-Presbyterian Queens, juntamente com sua equipe médica.
Os pesquisadores analisaram dados de 688
pacientes operados entre 2009 e 2017. Os dados incluíram resultados de
pacientes antes (n = 268; idade média, 66 anos; 65% homens) e depois (n = 420;
idade média, 64 anos; 74% homens) de um protocolo agressivo de doação autóloga
intraoperatória ser implementado no departamento em janeiro de 2013.
As variáveis incluídas neste estudo
foram: drenagem torácica, tempo de internação, transfusões de concentrado de
hemácias, tipo de procedimento, dados demográficos e resultados.
Os pacientes que se submeteram à cirurgia
após a implementação do protocolo necessitaram de menos transfusões de sangue
após a cirurgia em comparação com aqueles que foram submetidos à cirurgia antes
do protocolo ser implementado (70% vs. 40%; P <0,001). Além disso, esses
pacientes tiveram menor tempo de internação (7,8 dias vs. 6,8 dias; P
<0,001), menos transfusões totais (1,76 concentrado de hemácias vs. 0,79
concentrado de hemácias; P <0,001) e menor drenagem torácica. (1,295 mL vs.
1,207 mL; P = 0,038).
"Nós concordamos em 100% que isso não
é definitivo, mas esperamos que promova interesse adicional no assunto",
disse Zimmermann à revista médica Cardiology Today. "Esperamos que isso possa motivar prospectivos
estudos para trazer mais rigor científico ao assunto."
A doação de sangue autólogo não é uma novidade.
Sempre houve um consenso de que os resultados são melhores quando se utiliza
sangue autólogo a fim de evitar transfusões de glóbulos vermelhos.
Existem provavelmente dois mecanismos. Um é
um verdadeiro efeito biológico porque as transfusões estão associadas à reações
adversas, infecções potenciais e imunossupressão. Evitar uma transfusão é
extremamente importante e definitivamente resultará em benefício clínico.
Há também um viés de seleção, especialmente
em estudos como este. O viés de seleção significa que estamos de alguma forma
selecionando pacientes que recebem doação de sangue autólogo, no sentido de que
eles são um pouco diferentes dos pacientes que não o fazem. A doação de sangue
autólogo requer um pouco mais de trabalho, tempo e doação por si só porque você
retira um certo volume que pode ser tolerado apenas por um indivíduo saudável
ou pelo menos um indivíduo em boa forma. Os pacientes candidatos à doação de sangue
autólogo não podem estar muito doentes ou o procedimento não pode ser muito
urgente. Esse é um grande fator de confusão que precisa ser levado em conta ao
analisar esse tipo de estudo.
É muito provável que exista um efeito
biológico, mas os resultados também podem confundir pela indicação ou por um
viés de seleção que explica esses resultados.
Mais pesquisas são necessárias. Este é um
estudo preliminar. Os autores devem ser elogiados por esta apresentação, mas a
análise ainda não está ajustada. Eles estão comparando duas populações de
pacientes em diferentes períodos de tempo. Há também uma evolução da técnica e
do gerenciamento. Este é um excelente ponto de estudo, mas não pode ser visto
como uma conclusão definitiva. Nossos esforços de pesquisa devem se concentrar
no gerenciamento do sangue e, em geral, na tentativa de tornar esse
procedimento mais seguro.
"Eu não vejo nenhuma desvantagem nessa
técnica se um paciente puder tolerá-la. É definitivamente algo muito útil."
Vinte anos atrás, a revascularização do
miocárdio era considerada uma cirurgia arriscada. Havia um risco operatório considerável. Naquela época, o principal objetivo do cirurgião era
apenas que o paciente sobrevivesse após a cirurgia. Agora, o risco é inferior à 1%. Não podemos garantir a sobrevivência do paciente
agora, mas também precisamos maximizar o benefício da cirurgia, minimizando o
seu lado negativo o máximo possível.
[1] É o método em que o sangue expelido durante a cirurgia é recolhido para
ser utilizado na transfusão ou recolhido após a cirurgia da cavidade
fechada através de drenagem do sangue. Há a possibilidade do sangue coletado estar
contaminado por bactérias, células tumorais ou misturas estranhas.
Fonte: