Os primeiros calendários criados pelos
egípcios eram totalmente baseados nos ciclos da Lua, porém esse sistema não
conseguia prever as inundações anuais do rio Nilo, um acontecimento de extrema
importância para a sobrevivência egípcia na época. Começaram, então, a notar
que as cheias do Nilo coincidiam com o surgimento helíaco[1] da estrela Sirius,
pertencente à constelação de Canis Major (Cão Maior).
Quando o Sol ia surgindo no horizonte, o
brilho da estrela ficava mais visível e assim passaram a associar esse fenômeno
com a inundação anual, criando o calendário solar (civil). Tornaram-se os
primeiros a possuir um calendário com 365 dias no ano, sendo que o primeiro
calendário lunar tinha 354 dias e serviu para a base do calendário solar (civil).
Os egípcios tinham total consciência da
influência dos acontecimentos naturais em suas vidas. Os ciclos da Lua, do Sol,
das Estrelas e o fluxo do Nilo foram de suma importância para a formação dos
calendários e de seus festivais. Ao contrário dos calendários que usamos hoje,
os egípcios tinham pelo menos três sistemas diferentes, simultaneamente,
ligados entre si através de uma série de eventos celestes. O egiptólogo Richar
Parker denominou o calendário que regulamentava assuntos mundanos de
“calendário civil”, muito embora as festividades fossem baseadas no calendário
lunar.
No calendário “civil”, o ano era dividido
em 12 meses de 30 dias, sendo cada mês formado por 3 semanas de 10 dias, em um
total de 360 dias por ano, acrescidos de 5 dias especiais para homenagear os
deuses Hórus, Seth, Ísis, Osíris e Néftis. Esses 5 dias não estavam incluídos
no calendário civil e, portanto, eram apenas dias religiosos. Eram chamados de
Heriu-renpet e na teoria correspondiam ao décimo terceiro mês lunar.
“Como
os dozes meses lunares totalizam em média 354 dias – cerca de onze dias menos
do que o ano natural – sempre que o crescente de Sótis ocorria nos últimos onze
dias do mês de wep renpet, o mês seguinte não era adotado como o primeiro do
calendário, mas, sim como um mês intercalado ou extra; com isso, o ano seguinte
tornava-se um “grande” ano de treze meses, cerca de 384 dias, o que mantinha o
crescente de Sótis seguramente em seu mês.”
(HARRIS, 1993, p. 29)
O calendário lunar era muito irregular e o
mês era dividido em quatro semanas, chegando a ter semanas com oito dias. A fim
de evitar essa irregularidade, os meses foram arredondados para 30 dias, e o
calendário solar passou a ser utilizado com grande eficácia. Inicialmente, não
havia nomes para os meses do calendário civil (solar). Depois os nomes foram
sendo desenvolvidos, a maioria dos quais derivados do calendário lunar.
Para começarmos a entender os calendários
egípcios, precisamos olhar para o aspecto mais importante dessa civilização: O
Rio Nilo. Sem o Nilo, o Egito como conhecemos certamente não existiria. Quanto
ao seu ciclo de águas, podia ser dividido em três partes: o período das
cheias/inundações (Akhet), o período de plantio (Peret) e o período da colheita
(Shemu). Foram esses ciclos que levaram à criação do calendário egípcio. Cada
um desses ciclos durava quatro meses.
Akhet:
Marcava o início do ano pela subida do Nilo. Esse evento era vital para a
população, porque as águas deixavam para trás lodo fértil e umidade, que eram a
causa da fertilidade do solo egípcio.
Peret:
Marcava o início do plantio, que só era possível devido à inundação no Nilo
(Akhet).
Shemu:
Época em que os egípcios faziam suas colheitas, também conhecida como a estação
seca ou a estação do verão.
Basicamente os egípcios tiveram três
calendários, sendo dois lunares e um solar.
“Esses três são os únicos calendários para os
quais há provas concretas. Particularmente atraente para os primeiros
cronologistas foi a idéia de um ano fixo ou sotíaco, cujo primeiro dia sempre
coincidia com o nascimento de Sótis, havendo um ano bissexto de 366 dias a cada
quatro anos. Não há qualquer evidência de um ano assim e a necessidade
apregoada para isso (a fim de que os festivais naturais, como o da colheita,
pudessem ser celebrados nas ocasiões apropriadas) era plenamente atendida pelo
calendário lunar original.” (HARRIS, 1993, p. 32,
33)
[1] O nascer helíaco ou
nascimento heliacal de um corpo celeste é o momento em que este torna-se
visível no horizonte imediatamente antes do nascer do Sol, estando
suficientemente afastado para que não seja ofuscado pelo brilho dele. https://pt.wikipedia.org/wiki/Nascer_helíaco