No dia 21 de novembro de 2018, o Conselho
Federal de Medicina (CFM) fez uma postagem em comemoração ao Dia Nacional da
Homeopatia[1],
especialidade médica reconhecida pelo CFM desde 1980. Eu, como gosto da
Homeopatia, fiz um comentário na postagem dizendo que a homeopatia já é
comprovada há anos e que inclusive a utilizo nos meus animais. Como já era de
se esperar, fui expressamente massacrada por estudantes de medicina e médicos
residentes enfurecidos, em sua maioria. Os demais comentários negativos também foram dirigidos ao próprio CFM.
Não vem ao caso a minha preferência
pessoal, mas o que me chamou a atenção foi notar a agressividade dos estudantes
com relação à minha opinião, sob o argumento de que a minha opinião “tem
potencial de causar dano a um paciente por ser baseada em evidências
equivocadas.” - Obviamente essa pessoa
não está interessada no dano que uma decisão possa causar a alguém, mesmo que
equivocada, ...sendo evidente que o que ele quer, de fato, é ratificar sua opinião
própria como sendo a melhor baseada em evidências científicas.
Meu objetivo aqui não é tratar de evidências científicas, mas de algo que considero muito maior, o respeito. O incidente mencionado acima me faz imaginar como esse jovens médicos, que não respeitam nem mesmo a autarquia que fiscaliza, regulamenta e exerce funções de interesse da classe médica, tratarão seus pacientes?
A empatia já é de longe, uma das qualidades
que mais está em escassez nos tempos atuais. É possível notar que, geração
após geração tem aumentado o egoísmo, o egocentrismo e a falta de respeito de
forma generalizada. As pessoas não respeitam os mais velhos, nem as vagas
especiais, não se importam com os direitos dos outros, ou seja, vivemos em um
mundo onde “as pessoas só enxergam seus próprios umbigos”, mas exigem seus
direitos de forma fervorosa quando algo os afeta direta e pessoalmente.
A empatia é a qualidade de se colocar no lugar do outro,
são reações cognitivas e emocionais diante das situações
vivenciadas pelo semelhante, de forma a projetar-se emocionalmente para a pessoa
observada, sendo capaz de imaginar como agiria se estivesse naquela mesma
situação.
Acredito que muitas pessoas já tiveram
experiências ruins com médicos também ruins, e isso não tem relação com a idade
do médico ou seu tempo de formação. Há experiências boas e ruins com médicos
experientes e com jovens médicos ou recém-formados, isso apenas confirma que a
empatia pode ser aprendida e desenvolvida com uma boa educação, mas isso é
muito pessoal e se não houver interesse e incentivo, é possível morrer sem ela.
A empatia pode enriquecer a prática médica
e deve ser discutida de forma sistemática nos estudos da relação
médico-paciente na formação de novos médicos, a fim de treiná-los em suas
qualidades humanísticas, uma vez que tem importância fundamental para a
efetividade dos processos diagnósticos e terapêuticos, indispensáveis para o
profissional da saúde. O médico tem o dever de respeitar os sentimentos e as
escolhas dos pacientes. Entretanto, o que se tem notado é que o humanismo da
profissão perdeu-se na ingenuidade romântica do sonho da graduação.
Estudos mostram que a empatia dos
estudantes de medicina revelam uma deterioração das habilidades empáticas dos
estudantes em anos mais avançados do curso. (O estudo tratou das causas, mas as
causas não são relevantes para o assunto abordado aqui).
O curso de medicina sempre esteve no topo
das carreiras mais concorridas nos vestibulares. Por que todo mundo quer ser
médico? Basta fazer uma pesquisa amadora pela internet para verificar que a
causa principal não é a vocação ou o desejo de ajudar pessoas, mas sim, o
status da profissão, a vaidade e o culto à personalidade, etc.
O médico se sente superior às outras
pessoas e isso é cultural e bem antigo, porém, quando ele encontra um paciente
que não aceita se submeter às suas regras, ele se sente subjugado e humilhado. Isso
é um grande equívoco, pois respeitar o direito do paciente não o coloca em situação
inferior.
Quando a tomada de decisão médica
desconsidera a opinião do paciente plenamente capaz constitui-se uma conduta unilateral, chamada de
paternalismo médico. Quando o princípio da beneficência não respeita o
princípio da autonomia do paciente, isso resulta em ações paternalistas.
O paternalismo médico tornou-se uma
tradição hipocrática e ainda é algo amplamente difundido pelos mestres das
escolas médicas, de forma que os estudantes de medicina são incentivados a
tomarem decisões, que consideram ser as melhores para os pacientes, mesmo sem
os consultarem ou obterem seu consentimento.
A beneficência é um princípio bioético que se constitui em uma das
prerrogativas do exercício da medicina e diz respeito a agir no melhor
interesse do paciente. O respeito à pessoa do paciente é elemento essencial na
ética deontológica central da medicina e assim deve ser também na prática.
Não sou contra a medicina nem contra os
médicos (isso seria uma insanidade), pelo contrário, sou contra a atitude
paternalista de certos médicos arrogantes, que se consideram semi-deuses e
querem impor sua opinião à força em seus pacientes vulneráveis.
Conheço e já fui atendida por muitos
médicos excelentes, mas também já deixei alguns falando sozinho no consultório,
pois nem no meu rosto olhou. Por outro lado, há médicos que realmente exercem a
medicina por vocação e isso é nítido pela maneira como tratam seus pacientes.
Todos podemos atingir a excelência
profissional por utilizarmos nossos conhecimentos com sabedoria e respeito. Não
vivemos mais em uma sociedade ignorante como a do passado, onde as pessoas
sequer conheciam seus direitos. Vivemos hoje em um mundo globalizado com acesso
rápido à informação, isso é excelente mas certamente incomoda muitas pessoas.
As pessoas, em especial os pacientes,
querem ser tratados e não apenas curados. Os médicos precisam entender que não
são deuses e o poder da cura não está em suas mãos, portanto, não há razão para
se sentirem superiores a ninguém.
“Um bom médico também deve praticar a humildade. A medicina desperta muito prestígio, mas isso não deve ditar a tônica do comportamento, dentro ou fora do ambiente de trabalho. Humildade também levará o médico a perceber seus limites, e reconhecer o momento em que, para exercer de forma plena o seu ofício, precisará recorrer à pesquisa, aos estudos e aos colegas.”[2]
Uma atitude de desrespeito para com os
pacientes resulta em falta de confiança
em toda a classe médica e causa ainda mais demandas judiciais contra médicos.
Exercer a humildade e a empatia não dói e ainda pode ser a cura!
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Referências:
[1] Facebook. Conselho Federal de Medicina. Disponível em: https://www.facebook.com/conselhofederaldemedicina/photos/a.1419721984936536/2190096814565712/?type=3&theater
[2] MedPlus. Disponível em: http://blog.medplus.com.br/as-caracteristicas-de-um-bom-medico/