O Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente
é uma abordagem multidisciplinar baseada em evidências, para otimizar o
atendimento de pacientes que podem precisar de transfusão. Abrange todos os
aspectos de avaliação do paciente e manejo clínico em torno do processo de
tomada de decisão da transfusão, incluindo a aplicação de indicações adequadas,
bem como a minimização da perda de sangue e a otimização da massa de
eritrócitos do paciente. Tem como objetivo diminuir a necessidade das
transfusões de sangue de modo a alcançar melhores resultados para os pacientes.
O Dr.
Arlie Bock, um pesquisador de Harvard
Medical School e um pioneiro no campo da pesquisa de sangue, advertiu seus
colegas sobre o uso de transfusões de sangue em 1936, argumentando que:
"a transfusão de sangue pode ser um procedimento salva-vidas em determinadas circunstâncias, pode ser uma medida de apoio necessário em outras, mas é muitas vezes realizada quando. . . todas as outras terapias falharam."
As
transfusões de sangue têm sido um padrão na prática médica há décadas, mas
quase 80 anos após a advertência do Dr. Bock, descobertas da pesquisa sugerem
que estratégias mais restritivas de transfusão são mais seguras para a maioria
dos pacientes.
O Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente,
é definido como:
"o uso científico de técnicas médicas e cirúrgicas seguras e eficazes destinadas a minimizar e controlar a anemia e diminuir o sangramento em um esforço para melhorar os resultados dos pacientes".
A prática envolve medidas preventivas
multidisciplinares para diminuir a necessidade de transfusões de sangue,
centralizando-se em quatro áreas principais:
- Gerenciamento da anemia;
- Otimização do estado de coagulação;
- Utilização de um programa interdisciplinar de conservação do sangue;
- Tomada de decisão baseada na escolha do paciente.
Ao
abordar estas áreas, os médicos podem selecionar o tratamento mais adequado
para proporcionar maiores benefícios do que riscos, de modo a trazer o melhor
resultado para o paciente.
Os
pilares de um Programa bem sucedido de Gerenciamento de Sangue do Paciente são
a implementação de diretrizes de transfusões baseadas em evidências para
reduzir a variabilidade na prática transfusional, educação de pessoal e
implementação de uma variedade de estratégias clínicas.
As
estratégias do Programa de Gerenciamento
do Sangue do Paciente podem ser implementadas em todas as fases do
atendimento para pacientes cirúrgicos e não-cirúrgicos. No entanto, é
importante que os sistemas de saúde forneçam educação especializada para
médicos e enfermeiros ao implementar o Programa de Gerenciamento do Sangue. Uma
equipe multidisciplinar envolvida no desenvolvimento e na implementação de um
programa de Gerenciamento do Sangue é essencial.
Em um
esforço para atender à necessidade de formação de médicos e enfermeiros nesta
área, a National Patient Safety Foundation (NPSF), lançou recentemente um
módulo educacional on-line de Gerenciamento do Sangue do Paciente sob a ótica
da Segurança do Paciente.
Tejal K.
Gandhi, professora de medicina, mestre em Saúde Pública, profissional
certificada em segurança do paciente, presidente e CEO da National Patient
Safety Foundation, disse:
"Se conseguirmos que os médicos abracem as estratégias de Gerenciamento do Sangue do Paciente, poderemos ajudar a tornar o atendimento mais seguro para os pacientes."
Gerenciamento
do sangue do paciente em números:
- A transfusão de sangue é o procedimento mais comum realizado durante a hospitalização;
- 11% de todas as internações hospitalares que envolvem um procedimento incluem a transfusão;
- 50% das transfusões de hemácias são consideradas inadequadas;
- Cerca de 14 milhões de unidades de glóbulos vermelhos alogênicos são transfundidos cada ano a um custo de mais de 3 bilhões de dólares para os hospitais (uma média de 225 dólares por unidade de glóbulos vermelhos).
Benefícios
da implementação do Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente:
- Redução do risco de eventos adversos e incidentes;
- Melhoria dos resultados em pacientes;
- Redução das hospitalizações, readmissões, e tempo de permanência;
- Assegurar a disponibilidade de sangue para os mais necessitados;
- Otimizar os cuidados para aqueles que podem precisar da transfusão;
- Fomentar a colaboração em todo o hospital;
- Proporcionar uma vantagem competitiva no mercado;
- Melhorar o desenvolvimento e a qualidade dos profissionais da saúde nos hospitais;
- Poupar gastos
Os hospitais
que implementaram o Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente obtiveram os
seguintes resultados:
- Redução de 62% das transfusões de glóbulos vermelhos;
- Redução de 25% das internações hospitalares de pacientes que não foram transfundidos em comparação com pacientes que receberam sangue;
- As implementações de Orientações Transfusionais têm sido associadas à 47% de redução na probabilidade de morte e 50% de decréscimo dos custos totais de hospitalizações após cirurgias cardíacas;
- Os hospitais que implantaram o Programa de Gerenciamento do Sangue dos Pacientes tiveram seus gastos reduzidos em 510 mil dólares no primeiro ano.
Além de ser uma tendência mundial, tendo em vista os riscos envolvidos nas transfusões de sangue e todos os benefícios das técnicas de Gerenciamento e Conservação do Sangue do Paciente, é inegável a necessidade de políticas públicas para que os hospitais possam oferecer um atendimento adequado e seguro para os pacientes, além de esforços na área da educação para o desenvolvimento de novas estratégias e para o constante aperfeiçoamento dos profissionais da saúde.
Referências
Bibliográficas:
Advancing
Transfusion and Cellular Therapies Worldwide and The Joint Commission. Patient Blood Management Certification for
Your Hospital and Patients. Patient Blood Management Brochure 2016. Disponível
em: <http://www.jointcommission.org/assets/1/6/Bloodmanagementbrochure_2016_web.pdf>
Acesso em 13/04/2016.
LORINCZ,
MA, MS, Caitlin. Patient Blood
Management: It’s about Time. National Patient Safety Foundation. Out/2015. Disponível
em: <http://www.npsf.org/blogpost/1158873/227973/Patient-Blood-Management-It-s-about-Time>
Acesso em 13/04/2016.