Cell Saver
A Recuperação intraoperatória de sangue é uma técnica de recuperar o
sangue perdido pelo paciente durante a cirurgia e reinfundir no paciente por
meio de uma máquina chamada Cell Saver.
Trata-se de um procedimento que ganhou maior atenção e aceitação
tendo em vista os inúmeros riscos associados às transfusões de sangue, que apesar dos
avanços na prevenção da transmissão de doenças, ainda continua sendo um grande
desafio. Tais riscos envolvem a transmissão de infecções por bactérias como a hepatite
B, hepatite C, HIV, vírus Nilo ocidental, doença de Chagas, além de riscos
adicionais que incluem a lesão pulmonar aguda relacionada à transfusão (Trali),
causadora de sintomas como a dispnéia, febre, e hipotensão, que podem levar à
morte em algumas horas após a transfusão.
Outros riscos extremamente preocupantes estão associados às
transfusões, como a variante doença de Creutzfeldt-Jakob[1],
uma desordem neurodegenerativa humana de rápida progressão e invariavelmente
fatal, caracterizada por uma
encefalopatia em que predominam demência, mioclonias, sinais piramidais,
extrapiramidais e cerebelares, com óbito ocorrendo geralmente um ano após o
início dos sintomas.
Um outro motivo para que várias técnicas médicas tenham sido
desenvolvidas e aplicadas para auxiliar no tratamento do paciente com o uso do próprio sangue no
período da cirurgia, é a escassez de sangue. Em muitos países
industrializados, apenas 5% ou menos da população elegível são doadores de
sangue.
Como resultado, a comunidade médica mundial tem cada vez mais mudado sua prática por substituir o uso do sangue alogênico (sangue de outra pessoa) pela recuperação intraoperatória
do sangue do próprio paciente.
A perda de uma quantidade considerável de sangue é um problema
frequente em pacientes submetidos à cirurgia ortopédica. Entretanto, estudos
mostraram que o uso do sistema Cell Saver diminuiu a necessidade de transfusões
de sangue alogênico no período perioperatório em cirurgias ortopédicas de
quadril e joelho. O gerenciamento do sangue do paciente é uma questão
importante em pacientes ortopédicos que são candidatos a artroplastias, de modo
que todas as estratégias de gerenciamento do sangue do paciente devem ser consideradas
durante uma grande cirurgia ortopédica, para diminuir a necessidade das transfusões
de sangue autólogo.
A transfusão de sangue deve ser evitada sempre que possível devido
ao aumento do risco das suas complicações infecciosas e não infecciosas.
Como funciona a Cell Saver?
Durante a cirurgia, essas máquinas recuperam e imediatamente
reutilizam o sangue do próprio paciente, sem armazená-lo. Novas tecnologias em
máquinas modernas permitem separar o sangue em seus componentes e reutilizar os
que forem necessários enquanto continuam ligadas ao paciente.
O resgate das células vermelhas do campo operatório requer o uso de
um cateter de sucção duplo lúmen, sendo que, um lúmen aspira o sangue e outro
adiciona solução salina com heparina no sangue recuperado.
cateter de sucção duplo lúmen
Os componentes básicos da Cell Saver são: kit de aspiração; anticoagulante
(reservatório); centrífuga; recipiente da centrífuga; soro fisiológico 0,9%
para lavagem; bolsa de detritos e bolsa de reinfusão.
Sua função consiste em aspirar através de conduto o sangue da
cavidade torácica, abdominal ou pélvica seguindo o seguinte processo:
FILTRAGEM - que separa partículas maiores de 40 micras[2]
do conteúdo aspirado que são desprezadas, microêmbolos gordurosos do sangue
aspirado. O sangue é filtrado através de uma membrana semi-permeável e fica
armazenado em um reservatório de volume fixo com rotação de até 6.000 rpm. A
maior parte dos reservatórios tem filtros entre 40 e 150 μm de tamanho, que
servem para remover grandes coágulos e detritos.
CENTRIFUGAÇÃO - processo que despreza substâncias que não se misturam incluindo o
plasma, parte dos leucócitos e plaquetas; heparina e fatores de coagulação. A força centrífuga faz com que os eritrócitos,
devido a sua maior densidade, fiquem na parte inferior da bacia. Devido a menor
densidade do plasma, esse fica na parte superior da bacia e é direcionado a uma
bolsa de descarte.
LAVAGEM DE HEMÁCIAS - com soro fisiológico.
ARMAZENAMENTO - sistema conectado à veia do paciente onde as hemácias são recuperadas, recolhidas
em uma bolsa
separada e ressuspendidas em
solução salina, resultando em um hematócrito (HCT) de 50 a
80%, pronto para reinfusão que deverá ser realizada imediatamente.
O equipamento deve ser manejado por médicos devidamente treinados e
é indicado em casos de transplantes, hepático, cardíaco, cirurgias da aorta,
cirurgias combinadas, cirurgias valvares, reoperações, vascular, aneurisma de
aorta abdominal, urologia, cistectomia, prostatectomia, nefrectomia, ortopedia,
revisões de quadril/prótese total de quadril, artrodeses de coluna, obstetrícia
e em pacientes Testemunhas de Jeová.
Referências Bibliográficas:
[1] DIVE - Diretoria de Vigilância Epidemiológica. Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). Disponível em: http://www.dive.sc.gov.br/index.php/d-a/item/doenca-de-creutzfeldt-jakob
[2] Micra é o plural de micrometro ou micron, e equivale a dividir 1
milímetro por 1000. Ou seja, 1 micra é igual a 0,001 milímetro. Como efeito de
comparação, um grão de areia normal tem algo entre 200 e 500 micra. Fonte: http://www.lonax.com.br/micragem/