domingo, 18 de fevereiro de 2018

Medicina sem Sangue




Anos atrás, coordenadores do Sistema de saúde Johns Hopkins de Baltimore, fizeram uma avaliação sobre o número de transfusões de sangue realizadas anualmente em suas instalações e, preocupados que em alguns casos as transfusões estavam sendo realizadas em excesso, procuraram obter mais informações para determinar a frequência e a necessidade de tais procedimentos.

De acordo com o diretor do Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente e Centro de Cirurgia e Medicina sem Sangue, Dr. Steven Frank, esse foi o motivo do desenvolvimento do Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente que foi lançado em 2012, e teve por objetivo a redução dos riscos e dos custos, além da melhoria dos resultados por meio da prática transfusional baseada em evidências.

Um estudo do Programa mostrou que o Sistema de saúde Johns Hopkins economizou mais de dois milhões de dólares anualmente com custos de aquisição de bolsas de sangue, representando um retorno de quatrocentos por cento no investimento para o apoio ao Programa.

Além de proporcionar um excelente atendimento a pacientes que não aceitam transfusões de sangue por motivos religiosos, o fato de possuir um Programa “sem sangue”, além de atrair mais pacientes, resulta em pacientes gratos, e ainda habilita o médico a “fazer mais com menos” em benefício de outros pacientes do hospital.

Uma vez que o sangue é mal reembolsado ou nem mesmo é reembolsado, todas as unidades de bolsas de sangue economizadas representam dinheiro que retorna ao fundo hospitalar. Mas os benefícios do Programa vão além do econômico. O Programa está relacionado à melhores resultados para o paciente, como a redução dos  riscos de doenças transmitidas por meio das transfusões de sangue, garantindo a segurança do paciente.

Recomendações específicas foram desenvolvidas para a redução do uso do sangue no sistema de cuidados da saúde, por exemplo, técnicas anestésicas para evitar a hipotermia e a utilização controlada de hipotensores com o objetivo de diminuir o sangramento e o uso da máquina de recuperação intra-operatória de sangue (cell salvage), que reinfunde o sangue perdido do paciente durante a cirurgia. Além disso, tubos menores de flebotomia estão sendo usados para reduzir a perda sanguínea em testes laboratoriais.

Segundo a diretora do Programa de Gerenciamento de Sangue da Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB), Nikky D’Amour, muitos fatores contribuiram para o desenvo  lvimento do campo de gerenciamento de sangue do paciente nos Estados Unidos.

Um deles era o de tratar pacientes Testemunhas de Jeová, cujas convicções religiosas fazem com que não aceitem receber os componentes primários do sangue. Com o objetivo de evitar a necessidade das transfusões, esses pacientes são normalmente submetidos a cuidados proativos para diagnosticar e tratar a anemia e a melhorar os resultados.

Evitar transfusões de sangue desnecessárias tem se tornado uma prioridade, à medida que mais e mais estudos têm destacado os riscos associados às transfusões. Além do mais, como benefício adicional, reduzir o número de transfusões desnecessárias ajuda as instituições a se adaptar às mudanças de suprimento de sangue, resultando em economia financeira.

Com base nas experiências positivas da medicina sem sangue e nas pesquisas quanto às estratégias de transfusão restritivas, os profissionais começaram a ampliar esse novo e melhorado método de tratamento para pacientes em um maior âmbito populacional. Ainda mais importante, isso está sendo feito de um modo que coloca as necessidades do paciente como centro no processo de tomada de decisão e não prejudica a disponibilidade de sangue em casos de trauma.

A ampla divulgação do Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente tem mudado a maneira em que o sangue é administrado. Médicos educadores têm encorajado seus alunos a confiarem nas orientações sobre medicina transfusional baseada em evidências e essa tendência continua a aumentar.

No entanto, ainda há a necessidade de padronizar a estrutura do Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente para dar consistência ao atendimento de pacientes em todas as instituições. Nos Estados Unidos, dados mostram que o retorno do investimento para a implementação do Programa vale o custo, e têm evidenciado uma melhoria métrica relacionada a resultados de qualidade, além de uma economia institucional geral.

A Medicina sem Sangue é hoje uma realidade que muitos profissionais da saúde ainda precisam aprender a praticar. Para isso é necessária uma mudança de atitude, ou seja, reconhecer que é preciso  ampliar seus conhecimentos de modo a acompanhar os avanços tecnológicos e os estudos da Medicina baseada em evidências para que possam colaborar com as necessidades do paciente e respeitar suas decisões.

Um trabalho conjunto de respeito e colaboração e uma boa relação médico-paciente trazem benefícios para todos.

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Fonte:

AABB (Advancing Transfusion and Cellular Therapies Worldwide). The Evolution of Patient Blood Management. Vol. 20. n. 1. Jan./Feb. 2018. Disponível em: http://www.aabb.org/programs/publications/news/Documents/aabbnews-preview.pdf#search=evolution%20patient%20blood%20management



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