Anos atrás,
coordenadores do Sistema de saúde Johns Hopkins de Baltimore, fizeram uma
avaliação sobre o número de transfusões de sangue realizadas anualmente em suas
instalações e, preocupados que em alguns casos as transfusões estavam sendo
realizadas em excesso, procuraram obter mais informações para determinar a
frequência e a necessidade de tais procedimentos.
De acordo com o
diretor do Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente e Centro de Cirurgia
e Medicina sem Sangue, Dr. Steven Frank, esse foi o motivo do desenvolvimento
do Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente que foi lançado em 2012, e
teve por objetivo a redução dos riscos e dos custos, além da melhoria dos
resultados por meio da prática transfusional baseada em evidências.
Um estudo do
Programa mostrou que o Sistema de saúde Johns Hopkins economizou mais de dois
milhões de dólares anualmente com custos de aquisição de bolsas de sangue,
representando um retorno de quatrocentos por cento no investimento para o apoio
ao Programa.
Além de
proporcionar um excelente atendimento a pacientes que não aceitam transfusões
de sangue por motivos religiosos, o fato de possuir um Programa “sem sangue”, além de atrair mais pacientes, resulta em pacientes gratos, e ainda habilita o médico a
“fazer mais com menos” em benefício de outros pacientes do hospital.
Uma vez que o
sangue é mal reembolsado ou nem mesmo é reembolsado, todas as unidades de bolsas de
sangue economizadas representam dinheiro que retorna ao fundo hospitalar. Mas os
benefícios do Programa vão além do econômico. O Programa está relacionado à
melhores resultados para o paciente, como a redução dos riscos de doenças transmitidas por meio das
transfusões de sangue, garantindo a segurança do paciente.
Recomendações
específicas foram desenvolvidas para a redução do uso do sangue no sistema de
cuidados da saúde, por exemplo, técnicas anestésicas para evitar a
hipotermia e a utilização controlada de hipotensores com o objetivo de diminuir
o sangramento e o uso da máquina de recuperação intra-operatória de sangue (cell
salvage), que reinfunde o sangue perdido do paciente durante a cirurgia. Além
disso, tubos menores de flebotomia estão sendo usados para reduzir a perda
sanguínea em testes laboratoriais.
Segundo a
diretora do Programa de Gerenciamento de Sangue da Associação Americana de
Bancos de Sangue (AABB), Nikky D’Amour, muitos fatores contribuiram para o
desenvo lvimento do campo de gerenciamento de sangue do paciente nos Estados
Unidos.
Um deles era o
de tratar pacientes Testemunhas de Jeová, cujas convicções religiosas fazem com
que não aceitem receber os componentes primários do sangue. Com o objetivo de
evitar a necessidade das transfusões, esses pacientes são normalmente submetidos
a cuidados proativos para diagnosticar e tratar a anemia e a melhorar os
resultados.
Evitar
transfusões de sangue desnecessárias tem se tornado uma prioridade, à medida que
mais e mais estudos têm destacado os riscos associados às transfusões. Além
do mais, como benefício adicional, reduzir o número de transfusões
desnecessárias ajuda as instituições a se adaptar às mudanças de suprimento de
sangue, resultando em economia financeira.
Com base nas
experiências positivas da medicina sem sangue e nas pesquisas quanto às estratégias
de transfusão restritivas, os profissionais começaram a ampliar esse novo e
melhorado método de tratamento para pacientes em um maior âmbito populacional.
Ainda mais importante, isso está sendo feito de um modo que coloca as
necessidades do paciente como centro no processo de tomada de decisão e não
prejudica a disponibilidade de sangue em casos de trauma.
A ampla
divulgação do Programa de Gerenciamento do Sangue do Paciente tem mudado a
maneira em que o sangue é administrado. Médicos educadores têm encorajado seus
alunos a confiarem nas orientações sobre medicina transfusional baseada em evidências e
essa tendência continua a aumentar.
No entanto,
ainda há a necessidade de padronizar a estrutura do Programa de Gerenciamento
do Sangue do Paciente para dar consistência ao atendimento de pacientes em
todas as instituições. Nos Estados Unidos, dados mostram que o retorno do
investimento para a implementação do Programa vale o custo, e têm evidenciado
uma melhoria métrica relacionada a resultados de qualidade, além de uma
economia institucional geral.
A Medicina sem
Sangue é hoje uma realidade que muitos profissionais da saúde ainda precisam aprender
a praticar. Para isso é necessária uma mudança de atitude, ou seja, reconhecer que é preciso ampliar
seus conhecimentos de modo a acompanhar os avanços tecnológicos e os estudos da
Medicina baseada em evidências para que possam colaborar com as necessidades do
paciente e respeitar suas decisões.
Um trabalho
conjunto de respeito e colaboração e uma boa relação médico-paciente trazem benefícios para todos.
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Fonte:
AABB (Advancing Transfusion and Cellular Therapies Worldwide). The Evolution of Patient Blood Management. Vol. 20. n. 1. Jan./Feb. 2018. Disponível em: http://www.aabb.org/programs/publications/news/Documents/aabbnews-preview.pdf#search=evolution%20patient%20blood%20management