Nove hospitais públicos portugueses vão
iniciar um projeto-piloto para reduzir o número de transfusões de sangue, uma
medida que se fosse aplicada em nível nacional diminuiria pela metade as
transfusões.
Trata-se da implementação do Programa de
Gerenciamento do Sangue do Paciente PBM – Patient
Blood Management, técnica de conservação do sangue do paciente que já está
sendo amplamente utilizada no cenário internacional.
O PBM já está implementado com uma elevada
taxa de referenciação em Lisboa, já com casos bem-sucedidos e em relação aos
quais, em condições normais, seria quase inevitável a utilização de sangue no processo
intraoperatório.
O objetivo do programa é evitar a
administração desnecessária de sangue e derivados, fazendo com que o sangue do
paciente seja preservado como recurso único e insubstituível e utilizado de
forma restritiva com o objetivo de fazer com que os hospitais criem estratégias
para a otimização dos pacientes de risco no pós-operatório a fim de minimizar a
utilização de sangue alogênico e reduzir procedimentos transfusionais.
A transfusão é uma terapêutica altamente
utilizada, porém com elevados riscos associados.
A Accumen Inc., empresa americana parceira
de desempenho em assistência à saúde, desenvolveu um programa abrangente de
Gerenciamento do Sangue do Paciente para melhorar os resultados dos pacientes e
agregar valor ao sistema de saúde incluindo 45 hospitais em 14 estados. Em
apenas um ano, uma campanha intitulada Save Blood,
Save Lives (Salve Sangue, Salve Vidas), resultou em uma redução de mais de onze mil unidades de glóbulos vermelhos reduzindo
o risco associado às transfusões como as infecções hospitalares adquiridas,
eventos trombóticos, reações transfusionais, mortalidade e morbidade.
A equipe da Accumen desenvolveu uma matriz
de priorização baseada em evidências para escalar seu Programa de PBM, que
incluiu desenvolvimento de infraestrutura, educação e conscientização clínica,
diretrizes clínicas, análises de pedidos de sangue, processos de benchmarks e análises de transfusões
significativas.
A diminuição das transfusões resultou,
automaticamente, em ganhos para a saúde, pois, reduziu as infecções hospitalares,
a duração das internações e a recidiva de neoplasias, sendo também financeiramente
vantajosa.
O PBM não significa apenas não dar sangue
ou apenas tratar a hemorragia, mas também prevenir, aumentar a tolerância do
doente, utilizando produto mais adequado, como o ácido tranexânico, agente fibrinogênico,
complexo protrombínico e outros, monitorando atentamente o doente, oferecendo
uma terapêutica adequada e específica a cada doente no contexto específico de
cada intervenção.
Para tanto, imprescindível é a existência
de um local onde os doentes possam ser otimizados no pré-operatório, além da
colaboração da equipe médica hospitalar através de um programa
multidisciplinar, buscando otimizar o diagnóstico e o manejo da anemia, minimizando
o sangramento.
O PBM é um programa que necessita de uma
grande colaboração institucional envolvendo cirurgiões, imunohemoterapeutas e
anestesiologistas, especialidades que precisam estar obrigatoriamente presentes
formando uma equipe motivada para a utilização de técnicas de minimização de
perda hemorrágica intraoperatória.
Entretanto, para que isso aconteça, seriam
necessárias mais consultas além da utilização de fármacos alternativos como o
ferro intravenoso, a vitamina B12, o ácido fólico e agentes capazes de
controlar as alterações de coagulação.
Segundo António Robalo Nunes[i],
a grande dificuldade “é combater o constrangimento, o atavismo, as barreiras, a
resistência à novidade, e gerar o entusiasmo de todo o grupo, sendo que se
trata de uma tarefa inevitavelmente multidisciplinar”.[ii]
A primeira parte do processo seria identificar
no pré-operatório e em tempo útil os doentes com anemia, permitindo tratar a
deficiência de ferro antes da cirurgia, avaliando as alterações da competência
hemostática. A existência de anemia é o principal fator de probabilidade para
uma transfusão de sangue. Essa identificação nem sempre é feito em tempo útil e
a ideia do programa é tornar esta gestão de sangue do doente uma cultura
institucional. A segunda parte, na fase intraoperatória, é a monitoração e a
diminuição das perdas hemorrágicas. Finalmente, no pós-operatório, deve haver
uma análise criteriosa dos cenários que poderão determinar a real necessidade
transfusional.
A presidente da Sociedade Portuguesa de
Anestesiologia (SPA), Rosário Órfão[iii]
diz que “a Anestesiologia é uma especialidade de resposta imediata, mas também
de antecipação”, uma vez que os anestesiologistas acompanham o doente nos
períodos pré, intra e pós-operatório, tendo um papel importante no contexto do
programa.
A vontade de fazer o bem envolve o trabalho
em equipe, o espírito de cooperação, o desenvolvimento de novas técnicas, o
aprimoramento dos conhecimentos, a valorização do sangue como sendo único e a
criação de protocolos com aspectos funcionais específicos para cada instituição
de acordo com a sua dimensão e complexidade, sempre visando o bem estar do
paciente.
Fonte:
[i] http://hotc.pt/medicos/antonio-robalo-nunes/
[ii] https://justnews.pt/noticias/patient-blood-management-agrega-cirurgies-anestesiologistas-e-imunohemoterapeutas/www.facebook.com/hospitalpublico/www.instagram.com/jornalmedico.csp#.Ww7PNEgvxdg
[iii] https://www.justnews.pt/noticias/anestesiologia-tem-papel-determinante-no-contexto-de-patient-blood-management#.Ww7TJkgvxdh